A decisão do Copom e o impacto do choque político

2018-02-05T16:40:54-03:00 30/05/2017|Categories: 2017, Artigos, Valor Econômico|Tags: , , , |

O meu último artigo publicado neste espaço (“Balanço de riscos permite aceleração no corte de juros”), foi exatamente no dia da última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). Defendi que o Copom tinha espaço para ser mais ousado e acelerar o ritmo de corte na taxa de juros em um ritmo superior a 100 pontos básicos.

A postura mais cautelosa do comitê foi acertada. Em apenas 49 dias desde a última decisão, o Copom se reúne mais uma vez para decidir a nova taxa de juros e quais serão os próximos passos, e dessa vez com um cenário mais incerto para o futuro.

Como disse o Presidente Michel Temer em seu pronunciamento logo após a eclosão das denúncias da delação da JBS, o governo viveu na semana do dia 15 de maio o seu melhor e pior momento. Essa afirmação também valia para os mercados. A economia brasileira demonstrava sinais de retomada no crescimento, com indicadores do mercado de trabalho mostrando uma recuperação na ponta e os indicadores de confiança sinalizavam uma retomada ao longo do ano.

O dólar se aproximava dos R$ 3, o Ibovespa dos 72 mil pontos e o juro futuro de longo prazo começava a se consolidar no patamar de um dígito. A sensação do tão sonhado país do futuro estava se tornando realidade. Os principais analistas de mercado já revisavam o fim do ciclo de corte da Selic entre 7% e 7,5%. Previsões de crescimento para 2018 já alcançavam 4%. O otimismo do mercado financeiro já contagiava os empresários que faziam planos de investimento já pensando na retomada da economia para os próximos anos.

A delação dos irmãos Batista interrompeu a retomada, trazendo muita incerteza sobre a capacidade do atual governo se sustentar ou a capacidade de um novo governo eleito por voto indireto ter a capacidade política de seguir com as reformas e dar prosseguimento à agenda econômica. Mais importante do que as reformas, é a incerteza com as em relação às eleições de 2018.

O que unia a classe política na urgência das reformas era a necessidade do país chegar em 2018 com o desemprego recuando e a economia voltando a crescer pelo menos 2%. O clima de insegurança política que se criou pode inviabilizar a retomada do crescimento até 2018 e dar força para a população decidir por um novo salvador da pátria nas próximas eleições.

Na semana passada, o economista-chefe do Credit Suisse, Nilson Teixeira, escreveu um excelente artigo no Valor alertando para o risco de postergar a reforma da previdência para o próximo presidente em 2019. Sem a aprovação da reforma da previdência em 2017, o déficit do sistema previdenciário aumentará dos atuais 3,7% do PIB deste ano para 4,2% do PIB em 2019 em vez de permanecer estável com a aprovação da reforma esse ano. Nos próximos dez anos, o custo da não aprovação será de 4% do PIB, o que ameaçaria o limite do teto dos gastos já em 2019. Com a dívida pública voltando a uma trajetória de crescimento insustentável, novas revisões negativas pelas agências de rating serão inevitáveis e voltaremos às discussões sobre dominância fiscal.

O Copom se reúne em um ambiente em que os indicadores econômicos permitem um grande espaço para a queda do juro, porém a incerteza política demanda cautela. A delação da JBS trouxe dois choques: um choque inflacionário com a alta do câmbio e um deflacionário com a diminuição das perspectivas de crescimento. Outra variável afetada é o juro de equilíbrio de longo prazo, que vai depender do desenrolar da crise nos próximos meses.

Replicando o modelo do Banco Central com os choques recentes, isto é, atribuindo uma alta do câmbio até R$ 3,45 em 2017 e permanecendo nesse patamar até 2018  – e uma revisão de crescimento em 2017 de 0,5% para zero, com o crescimento de 2018 de 2,5%, ainda conseguimos chegar à taxa de juros de 8,5% projetada pela pesquisa Focus do Banco Central, sem comprometer o atingimento do centro da meta de inflação nos próximos anos.

As projeções de inflação para 2017, 2018 e primeiro trimestre de 2019 seriam, respectivamente, de 4,10%, 4,4% e 4,5%. O cenário externo muito benigno tem possibilitado que o câmbio permaneça no intervalo entre R$ 3,20 e R$ 3,30, o que permitiria um cenário de juros mais baixos do que os 8,5%.

As expectativas de inflação devem permanecer contidas devido à forte trajetória de queda da inflação nos próximos meses. A inflação acumulada em 12 meses vai cair dos atuais 4,1% verificados em abril, para 3,4% em junho, e em agosto pode alcançar 2,9%, nível abaixo do limite inferior da meta de inflação, que é de 3,%.

O manual de política monetária dos Bancos Centrais diz que a autoridade monetária não deve trazer volatilidade para a taxa de juros. Além disso, em momentos como o atual, ela não deveria ser volátil em suas decisões tal como é o mercado financeiro. Dessa forma, a manutenção do ritmo de 100 pontos básicos seria a decisão mais recomendável e o novo comunicado deve trazer novas variáveis para o balanço de riscos.

Até o próximo Copom, em 26 de julho, o impacto desse choque político estará mais claro, assim como o cenário para as reformas e para o futuro da economia.

Luiz Eduardo Portella
sócio-gestor do Modal Asset Management